Eu gosto de destruir as coisas. Tenho como sonho desde pequeno quebrar uma televisão com um taco de baseball.
Acredito que todo ser humano sente uma vontade instintiva de construir e destruir, como num ritual interno onde isso faria parte do seu próprio ser. A criação de novos pensamentos e células morrendo a cada segundo.
Os hindus até criaram um deus destruidor, a Deusa Shiva, que faz parte da "Trimurti", algo como uma santíssima trindade Hindú. O interessante é que eles ligam Shiva à idéia de destruição e purificação. Seria a destruição para a construção de algo novo. Ela possuiria um tambor chamado "Damaru" que Shiva marcaria o ritmo do universo e o compasso de sua dança. Às vezes, ela deixa de tocar por um instante, para ajustar o som do tambor ou para achar um ritmo melhor e, então, todo o universo se desfaz e só reaparece quando a música recomeça.
Apesar de não crer no hinduísmo, acho interessantíssima essa idéia da deusa Shiva.
Em alguns momentos específicos, quando toco bateria, tenho vontade de quebrá-la. Não quebro porque ainda guardo um pingo de bom senso de saber que é um instrumento caro, mas a minha vontade é de quebrá-la. Não sei porque. Na minha mente a coisa funciona meio como catarse. Não é pose em cima do palco. Eu simplesmente sinto vontade de quebrar algo.
Outro dia o público do show do Racionais Mc´s entrou em combate com a polícia em São Paulo. E eu não consigo deixar de achar que não é simplesmente um protesto ou inconsequência juvenil, mas uma vontade de destruir. Sem razão, apenas destruir. E acho que a sociedade precisa disso. Acredito que ela gosta. A música do Racionais deixa com raiva, com vontade de quebrar. E não digo isso como algo ruim, mas como algo válido. Isso é o que a arte provoca nas pessoas. O Racionais até que não deve estar feliz com o vandalismo em São Paulo, mas deveriam. A arte é feita pra isso.